quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Por uma Nação mais forte

Já me causou surtos de revolta, mas hoje apenas me dá náusea e indignação o discurso dos que se dizem "corinthianos comuns" e se assumem seres superiores aos "organizados" –que, por sua vez, se transformaram em objeto de desprezo de parte (ignorante) da sociedade.
Discurso antigo, que tem voz ativa também na televisão, especialmente na pessoa do jornalista Flávio Prado, que se diz grande admirador do outro Flávio, o La Selva, fundador dos Gaviões da Fiel, mas que não titubeou em afirmar diante das câmeras que torcedores machucados durante uma confusão na saída do estádio deveriam ser "largados na rua para que o caminhão de lixo levasse".
La Selva, que sabia mais do que eu e provavelmente bem mais do que o Prado, pregava respeito e comunhão. Queria a conciliação –e mais que isso, a PARCERIA –com o diferente. Foi ele quem incentivou seu grande amigo Cosmo Damião a fundar, ainda no fim dos anos 60, a Torcida Jovem do Santos. Flávio tinha um ideal e dedicou sua vida a ele: lutar por uma sociedade melhor e mais justa, especialmente no que se referia ao Corinthians.
Flávio sabia que só conseguiria melhorar o clube com organização e um trabalho sério realizado lá dentro. Fundou os Gaviões da Fiel, cujo objetivo, além de seguir o Timão nos estádios do mundo afora, era lutar contra a ditadura que havia se enraizado no clube –e a força bruta contra quem ousasse discordar. Além disso, elegeu-se conselheiro para ter poder de voto e argumento nas decisões tomadas pela Diretoria alvinegra.
Mas já dizia a música, "os bons morrem antes". E Flávio se foi sem poder assistir ao que estamos prestes a viver no Corinthians: o retorno das eleições diretas. Depois de anos de ditadura e de uma luta árdua de alguns associados e poucos conselheiros, foi finalmente aprovada a mudança no estatuto que prevê que o associado tenha o direito de escolher seu representante.
E enquanto estamos discutindo se somos organizados ou não, se somos Bom Retiro ou São Jorge, se somos baderneiros ou comuns, a sujeira rola solta no Corinthians. A última é a intenção da oposição em pedir na Justiça o adiamento das eleições por seis meses. Ao invés de trabalhar pelo bem do clube, pela democracia, pela organização do cadastro ou por qualquer outro problema que haja, há quem pense apenas em tumultuar, ir contra. O foco é o poder, e os meios justificam os fins. Ninguém pensa no direito do associado, do torcedor, do corinthiano.
Quem deveria pensar nisso éramos nós. Mas estamos preocupados demais discutindo, sendo preconceituosos, destruindo a força da nossa torcida. E achando que a responsabilidade não é nossa.
O poder da Nação Alvinegra vem não apenas de seu amor e fidelidade ao Corinthians, mas de sua imensidão. Somos 33 milhões de pessoas. É inevitável que façamos escolhas individuais, sigamos por caminhos distintos, pensemos diferente. Cada um tem o direito de ser o que quiser, de se associar ou não à torcida que quiser e de defender a idéia que quiser sem ser discriminado. Porque a Fiel Torcida não sou eu, você, o Gaviões da Fiel, o torcedor de numerada. A Fiel Torcida é maior e mais importante, é a união de todos nós.
Se temos um foco comum, que é defender o Coringão, vamos nos concentrar nisso. Nos conscientizar de que é, sim, nosso papel ir além das arquibancadas (morando no Tatuapé, no Capão ou no Chuí), fiscalizar de que forma nosso clube é administrado e garantir que ele não perca sua essência. Porque "o Corinthians é o time do povo, e é o povo quem vai fazer o time".
Débora Miranda

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